06 março 2011

De maldade e grandeza

 

Malhadinha e Cocker: foi assim que ficaram registadas na Sociedade Protectora dos Animais. De certeza que antes tinham outros nomes, um dono, um lar. Ontem, contudo, eram apenas mais dois dos muitos cães que são abandonados à sua sorte. A estatística

Raquel Gonçalves

faz-se diariamente e não é abonatória para os seres humanos.Malhadinha e Cocker são duas fêmeas que foram abandonadas no Cão Girão, juntamente com uma ninhada de cinco cachorrinhos. Filhos de apenas uma delas, as duas partilhavam a tarefa de os proteger. Companheiras de infortúnio, de estrada, de fome e de frio, não queriam ser separadas quando foi necessário colocá-las em jaulas diferentes.

A amizade entre as duas era tão profunda que a que estava a amamentar deixava a outra, já adulta, também se alimentar do pouco leite que a sua profunda magreza e cinco cachorrinhos esfomeados ainda permitia.

Curiosa e avassaladora esta cumplicidade e partilha que nos surpreende, mas que também revela a maldade de quem as abandonou. Se os animais são capazes desta entrega, o que pode levar os outros animais, ditos racionais, a actos tão atrozes como o de abandonar quem, por si só, não será capaz de sobreviver.

O futuro na sobrelotada Sociedade Protectora dos Animais é incerto, mas na beira da estrada onde foram encontradas a morte seria certa, lenta, dolorosa e dramática.

Por isso, e porque os animais são sempre capazes de actos mais altos, não se entende o abandono. Quem deixou a Malhadinha e a Cocker à sua sorte, quem todos os dias abandona tantos outros animais, não pode ser boa pessoa. Não merece essa superioridade que dizem que nos caracteriza como seres pensantes.

Quem abandona, pode não saber, mas está muitos degraus abaixo da entrega e da grandeza de que os animais são capazes

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