28 julho 2011

À procura de nós

 

Só ontem, vi dois cães abandonados … Vi duas vezes o mesmo old english sheepdog a correr pela estrada fora, com a pressa doida de quem ainda acredita que vai alcançar o carro dos donos que o deixaram ali num ermo … De manhã, apareceu na esplanada onde eu vou um velho sharpei de expressão esperançosa … Estudava a cara de toda a gente, como se quisesse ter a certeza de não se enganar na identificação dos donos, caso ali estivessem a esconder-se dele … Já não confiava que o reconhecessem …

Ele estava irreconhecível, de certeza, fora a coleira de onde tinham arrancado a morada. É injusto, mas são os cães que eram mais giros quando eram pequenos que metem mais dó … É o contraste entre a festa que lhe faziam quando eram cachorrinhos e a indiferença com que os abandonam quando se tornam cães.

É incompreensível que, numa época em que cada vez mais actividades humanas são proibidas, continuem impunes os abandonadores de animais. Talvez pudessem passar umas férias num canil da câmara … Como pode ser mais grave e mais castigado deitar um saco de lixo para a rua do que um animal dito de estimação?

A maneira como tratamos e protegemos os bichos selvagens tem vindo a melhorar. Não será altura de começar a tratar melhor os bichos - como os cães e os gatos - que gostam de nós e que ainda pensam que gostamos deles?

Crónica de Miguel Esteves Cardoso

 

 

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