24 dezembro 2011

De que modo os animais prevêem os tremores de terra?

 

Ao longo da história humana, vários são os registos de episódios em que o comportamento dos animais se altera antes de ocorrer um tremor de terra. Agora, os cientistas pensam ter encontrado uma explicação para o fenómeno.

Tanto na Europa como na China, áreas do globo muito fustigadas pelos abalos sísmicos, o comportamento animal, tanto em cativeiro, (os que habitam nos Jardins Zoológicos), como os animais do campo e os domésticos tem dado pistas sobre a iminência de fenómenos meteorológicos.

A agitação, desejo de fuga, são alguns dos comportamentos dos animais, como se quisessem, ao mesmo tempo, salvarem-se a si próprios e avisar as pessoas para que abandonem aquele local.

Em Julho de 2009, horas após um grande terramoto na cidade de San Diego, na Califórnia, EUA, os habitantes encontraram dezenas de lulas Humboldt nas praias da região. Essas lulas são normalmente encontradas no fundo do mar, a profundidades de entre 200 a 600 metros.

Em 1975, em Haicheng, na China, muitos residentes relataram ter visto cobras a abandonarem as suas tocas um mês antes de a cidade ser violentamente sacudida por um grande tremor de terra. O comportamento das cobras era particularmente estranho, dado ter ocorrido no Inverno, período em que estas hibernam. Sair da toca quando as temperaturas rondam os zero graus seria um suicídio para os répteis, que dependem de fontes externas de calor para aquecerem os seus corpos.

Os terramotos de grandes magnitudes são tão raros que fica quase impossível estudar pormenorizadamente os eventos associados. Mas foi neste aspecto que o caso dos sapos de Áquila se torna diferente. Em Abril de 2009, a cidade italiana de Áquila foi atingida por um forte terramoto de 6.7 graus na escala de Richter. O sismo causou pelo menos 291 mortos, cerca de mil feridos, 15 desaparecidos e centenas de prédios, total ou parcialmente destruídos, sobretudo na cidade de Áquila, mas também noutras localidades próximas.

Dias antes do tremor de terra, uma colónia de sapos que habitava numa lagoa da região desapareceu misteriosamente.A bióloga britânica Rachel Grant estava, no momento, a estudar a colónia de sapos como parte de um projecto de pós graduação da Open University. "Foi muito dramático. (O número de sapos) passou de 96 para quase zero em três dias", explicou a cientista à BBC.As observações de Grant foram publicadas na revista científica “Journal of Zoology”.

Quando leram os relatos da investigadora, cientistas da agência espacial americana NASA, que já estavam a estudar as mudanças químicas que ocorrem quando as rochas estão sob extremo stress, perguntaram-se se essas alterações estariam associadas ao êxodo em massa dos sapos. A equipa da NASA juntou-se, então, a Rachel Grant para prosseguirem os estudos tendo por base os dados reunidos pela investigadora antes, durante e após a fuga dos anfíbios.

Os exames laboratoriais revelaram que a crosta terrestre pode, de facto, afectar directamente a composição química da água dentro do lago onde os sapos viviam e se reproduziam naquela altura. Na revista científica “International Journal of Environmental Research and Public Health, a equipa descreve um processo pelo qual as rochas sob stress na crosta terrestre libertam partículas carregadas electricamente que reagem com a água no solo.

O geofísico da NASA, Friedemann Freund demonstrou que quando as rochas estão sob muito altos níveis de stress - provocado, por exemplo, por imensas forças tectónicas logo antes de um tremor de terra - libertam partículas carregadas electricamente. “Essas partículas espalham-se pelas rochas das imediações”, explicou o investigador à BBC, acrescentando que “quando chegam à superfície da Terra, reagem com o ar, convertendo as moléculas do ar em partículas carregadas electricamente”.

"Os iões positivos presentes no ar são conhecidos na comunidade médica por provocarem dores de cabeça e náuseas em seres humanos e também por aumentarem os níveis de serotonina, uma hormona associada ao stress, no sangue dos animais", explicou o cientista.

Deste modo, segundo os cientistas, os animais que vivem na água ou perto dela são altamente sensíveis às mudanças na sua composição química, e, possivelmente, através desta percepção são capazes de sentir as alterações dias antes de as rochas se movimentarem que vão conduzir ao tremor de terra.

Trata-se da primeira descrição convincente de um possível mecanismo que funcionaria como um "sinal de pré-terramoto" que os animais aquáticos, semi-aquáticos ou que vivem em tocas seriam capazes de perceber, reagindo a ele, segundo a investigadora britânica Rachel Grant.Contudo, trata-se um mecanismo complicado e os cientistas enfatizam que a teoria precisa de muitos testes.

A equipa espera que esta hipótese inspire biólogos e geólogos a trabalharem em conjunto para descobrirem exactamente como os animais podem ajudar a reconhecer alguns dos sinais subtis de um terramoto iminente. E sugerem que as mudanças no comportamento dos animais passem a ser observadas e integradas nos mecanismos de previsão de terramotos.

Paula Pedro Martins
Jornalista

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