30 janeiro 2016

Para ti querida pombinha.

Para ti querida amiga


Encontrei-te num saco de plástico pendurado à minha porta. Alguém te encontrou, teve pena de ti, mas não quis ficar contigo.
Talvez por seres tão estranha.
Parecias um urubu.Tinhas algumas penas no pescoço e outras quantas na cauda. Tinhas fome, fiz-te uma papa com restos de pão. Comeste desalmadamente. Fui então comprar algumas sementes, triturei-as transformando-as em pó para fazer uma papa. Comeste com um apetite devorador.

Dei-te um nome. Chamavas-te Huila

Passaram-se alguns dias, e começaram a nascer-te as penas, 
Aos poucos foste crescendo e ganhando mais penas. Transformaste-te então numa bela pomba, não te diferenciando da maioria dos pombos que habitam a zona.

Nunca te quis aprisionar, pois tinhas asas e tinhas que as usar. Como entravas em pânico sempre que me afastava de ti, usei este meio para te obrigar a voar. Ao afastar-me, esforçavas-te para vires rapidamente ao meu encontro, foi assim que percebeste que voando chegavas mais depressa. E então aprendeste a voar.

Quando passaste a alimentares-te sozinha e percebendo que não corrias perigo, procurei um lugar onde pudesses conviver com os da tua espécie.

Foi aí que que encontraste grandes amigos e talvez um companheiro/a para a vida. Como, todos os da tua espécie, deixaste a tua casa e tornaste-te independente, não deixando no entanto de visitares quem te criou, fosse para comer ou para dizer olá. Com satisfação percebi o quanto eras feliz. Muitas vezes chamava-te mas não querias entrar. Do alto e sempre acompanhada apenas dizias: olá. estou bem e feliz. Quando tinhas fome, entravas, algumas vezes sem eu dar conta. Enchias o papo e voltavas feliz para junto dos teus amigos e amigas.

Passaram-se os meses e a cena repetia-se diariamente. Quantas vezes estando eu fora, corria para casa, não fosses tu apareceres e eu não estar presente para te alimentar.

Até que um dia, estranhamente não usaste as asas para vires ter comigo. Encontrei-te em plena rua. Andando, vieste até mim e subiste para o meu pé. Peguei em ti e percebi que estavas doente. Como infelizmente tenho visto muitos casos como o teu, percebi que tinhas sido envenenada. Tal confirmou-se, pois mais tarde, vi os corpos inertes, de dois dos teus companheiros

Dei-te carvão vegetal na esperança de te salvar, mas o veneno foi forte e não consegui. Deixaste-me, em grande sofrimento. Foste entre muitas, mais uma vítima da crueldade humana. Durante horas, impotente, assisti incrédula à tua aflição: tinhas convulsões e contorcias-te com dores.

Perdoa, minha pequenina por não conseguir salvar-te, perdoa por não conseguir terminar com tão grande agonia.
Por fim partiste.

Tu não merecias, os teus amigos não mereciam. Recordar-te-ei sempre querida amiga.

Quisera minha pombinha, ver-te voar, ver-te feliz, sentir a tua presença no telhado da minha casa, sentir-te sem te ver chegar.

Acredito, que juntamente com os teus amigos habitas agora num lugar onde existe paz, harmonia, voas livremente, e és feliz.

Adeus querida amiga.


Sei que muitos humanos rir-se-ão deste texto. Afinal na opinião de muitos, fazes parte de um grupo de animais que é considerado uma grande praga. Esta crueldade é imoral e demonstra a grande ignorância e estupidez de um povo.

“A bem da saúde publica”, os telhados devem estar pejados de pombos mortos.  O “grande herói” que praticou este acto de crueldade, devia subir aos telhados e recolher os corpos destas pobres aves, para evitar a propagação de doenças, não causada pelos pombos, mas por quem cometeu tão hediondo crime.






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